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ENSAIO 20: DITO CUJO

Atualizado: 26 de dez. de 2023



Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.



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24/11/2022


DITO CUJO


No princípio existia apenas um grande cu, no fim também.


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Antes de seguir não se esqueça da seguinte informação:


Você é um deuterostômio, e isto significa que na sua fase embrionária (assim como nas aves, sapos, peixes, estrelas, ouriços e pepinos do mar e nos cães e gatos e em todos os outros mamíferos) o cu nasce antes da boca, de onde podemos concluir brevemente que, pelo menos em uma fase das nossas vidas, justo na primeira, #somostodoscuzões.


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Existe um bom motivo pelo qual os cães cheiram os cus uns dos outros.

Na verdade existem vários.


O primeiro é óbvio, e parece estar na etimologia da palavra: cu-mprimentar o outro, e apesar de parecer um oi pra lá de íntimo entre humanos, para os cães é só o início da relação.


Deixou cheirar é sinal de simpatia e vontade de fazer novos amigos e a partir de então e ainda pelo cu eles descobrem se o outro cão é macho ou fêmea, o que ele ou ela ou elx anda comendo, o estado de humor, se tá namorando, ficando ou apenas arrastando para a esquerda no Tinder e até mesmo se já andaram se vendo e se cheirando em outras praças.


São informações involuntárias, quimicamente indisfarçáveis e indisfarçavelmente personalizadas.


O cu define o cão.


Já nós, os humanos aqui, os evoluídos da cadeia alimentar, os seres de luz darwinianos, só entregamos as informações que, quando e como queremos verbalmente ou seja, dissuasão, embromação e manipulação.


Mas com um bom faro outro humano até consegue ler, ver e ouvir nas entrelinhas de uma pessoa e saber realmente como ela é além das palavras ditas e desditas e só então comer o cu dela, metaforicamente ou não e isto me faz perguntar: se o ser humano se tornou especialista em dissuadir com palavras quando as suas atitudes dizem algo diferente, se pudéssemos cheirar os cus uns dos outros seríamos uma espécie mais confiável?


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Por falar em dedo no cu alheio e universo e humanidade (e redes sociais) algumas semanas atrás eu entrei, para variar atrasado como em todas as redes sociais, no mundo do Medium, basicamente uma rede social de textões.


E já arranjei uma fã por lá, embora o único legado visível dela por enquanto parece ser um único ensaio para a revista Vice sobre... cu. E o que fazer quando der de cara com um.



Mas ela está certa, depois que o cu entra no assunto nada mais precisa ser dito, o cu é uma obsessão universal.


Duvida? É só você ver a NASA.


Bilhões de galáxias, trilhões de planetas e sextilhões de estrelas, espaço e tempo infinitos e qual a maior obsessão da agência?


Os buracos negros, os cus do universo.


E existem quintilhões de buracos negros no universo, mais precisamente quarenta quintilhões que, somados aos tantos bilhões de cus terrestres faz este ocupar a estranha posição de ser o elemento mais cobiçado entre os mais abundantes, numa inversão praticamente metafísica da lei da utilidade marginal.


E antes do Big Bang?


Chutam eles ter existido apenas um grande e imenso espaço vazio e escuro.


Um cu.


Cu não brilha, não reluz, não fala, e desconsiderando um ou outro serial killer não se pode fazer um anel com um cu, todos possuem um que apenas pisca e peida e mesmo assim todos estão de olho no dos outros, como se o esfíncter do vizinho fosse mais útil por ser mais apertado.


Qualquer situação social humana envolve cu, praticamente todos os dias.


- Vai tomar no cu.


- Se ele não me pagar vou comer o cu dele.


- Vou te enfiar isso no cu se você não ficar quieto.


- Meu chefe vai comer o meu cu hoje.


E qual a primeira coisa que dois amigos começam a fazer quando atingem certo nível de intimidade?


Cutucar o cu um do outro.


Nos hospitais é comum repito, é comum, chegarem homens desesperados e envergonhados na emergência com tudo o que você possa imaginar enfiado dentro do cu: cenoura, banana, tubo de desodorante, tubo de espuma de barbear e os piores de todos, cabo de escova de privada e garrafa de refrigerante.


Enquanto mulheres descem na boquinha da garrafa parece que o gênero oposto leva o pagode todo para dentro do tchan.


Na maioria dos casos o esfíncter do infeliz fecha e um laxante ou copo de azeite dão conta de reabrir o mundo para quem (ou o que) estiver lá dentro fugir, mas com escova de privada e garrafa de refrigerante a coisa complica um pouco, no primeiro caso muita paciência e injeções de lubrificante íntimo para aliviar o vácuo formado nos dois lados da alça da escova na parede do reto do cidadão e o segundo caso, apesar de mais simples, é um tanto quanto mais vergonhoso pois alguém tem de ir lá chamar alguém da ortopedia para alguém trazer uma furadeira para furar o fundo da garrafa para entrar ar e o vácuo do bico cessar para liberar o cu de outro alguém e fazer o bem sem olhar a quem.


Em outras palavras, se você ver uma furadeira entrando na emergência quase certo outro alguém está com uma clássica garrafa de Coca-Cola, ou Laranjinha ou Guaraná, enfiada no fiofó.



Você pode se perguntar, por que não compram logo um pinto daqueles de silicone?


Eu não sei, no hospital não fazemos este tipo de pergunta e a NASA ainda não possui esta resposta pois ainda não perderam nenhuma nave por lá.


Aliás, por falar em NASA e cus, a empresa WBF Aeronautics lançou (pelo menos o modelo) a Vulva Spaceship, uma espaçonave com formato de você já pode imaginar qual onde provavelmente a cabine de comando fica no clitóris e com o objetivo nobre de combater o que a empresa acredita ser o machismo do formato fálico das naves espaciais.



Não sei se vai combater o machismo mas com certeza vai reafirmar um fetiche masculino tão antigo quanto o sonho de ir para a lua: buceta voadora é o sonho de todos os homens.


Eu acho uma falácia (ops), por que não logo buscar a tão sonhada equidade universal e fazer logo uma nave com formato de cu e propulsionada por um combustível vegano à base de lentilha e feijão?


E se o intuito é acabar com o tabu do poder e da hegemonia masculina espacial por que não logo uma próstata spaceship?


Uma nave que se acionada do jeito certo levaria qualquer um nas alturas e faria ver as estrelas? Eu não manjo de viagem espacial mas é isso que me disseram sobre os confins do sexo.


Por que não logo uma nave chamada TABU e o slogan seria apenas "TABU, minha nave no seu cu"?


E quando o astronauta chegasse no centro do lance ele diria apenas: Houston, men are from mars, women are from venus, when I look to the stars, I think about Uranus.


A Inglaterra pelo menos já está no caminho, com o seu Hybrid Air Vehicles Airlander 10 (originalmente HAV 304), um dirigível híbrido projetado e construído pelo fabricante britânico Hybrid Air Vehicles e apelidado de "The Flying Bum", isso mesmo, bumbum voador.


Aliás um popozão de 43 metros de largura, facilmente apelidável de AirTchan e naturalmente o pouso só pode ser na modalidade facesitting, pelo menos é o que o meu coração pede.


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Em tempo, falácia parece vir de falo mas na verdade vem do latim “fallacia”, aquilo que engana ou ilude, já o falo vem do grego "phallos" e significa pênis e ânus vem de "annulus", palavra latina para anel.


Aglutinando estas informações um pênis basicamente te engana até chegar lá e assim, em uma única frase, eu resumi as mil e duzentas páginas e/ou as nove horas da Trilogia Senhor dos Anéis, falos feios e desesperados competindo e ludibriando uns aos outros por causa de um anel.


(esta piada não é original mas guarde estas informações, elas serão úteis num futuro breve)


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Politicamente o cu é mais útil ainda por exemplo, se aparecer um único candidato e falar de cu no debate ele ganha no primeiro turno e nem precisa prometer nada, que vai dar o cu para todo mundo, que vai ter cu para todo mundo, nada.


É só citar o dito cujo em algum contexto e a democracia faz o resto.


- Este país está um cu.


- Precisamos aliviar o cu do nosso país.


- A nossa democracia está tomando no cu.


E então prometer tal qual um ortopedista com uma furadeira na mão que vai aliviar o vácuo do seu rabo e pronto, todos parecem ficar de quatro sem questionar.


Mas se você ficou de quatro apenas por causa de uma promessa sem olhar para trás, vão tirar algo do seu cu e colocar outra coisa lá. Desculpas, mas é assim o meu olhar para a alternância de governos, somos enrabados pela esquerda e pela direita e nossa maior esperança seria no mínimo uma cutucada da terceira via.


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E olha como são as coisas, a pessoa que me achou no Medium ali em cima já é minha amiga, e eu só forcei uma coincidência para poder vir aqui falar de cu também e assim é falar sobre cu, se não encaixa, a gente dá uma forçadinha e entra.


Este texto é uma sobra de rascunho sobre o ano de 1969 mas a vida quis ele virar um ensaio anal e terminando em no máximo um 69 onde com muita boa vontade a sua visão privilegiada não vai ser a Terra vista do espaço mas sim o furico de alguém bem pertinho do seu nariz.


Michael Collins ficou de fora em 1969 justamente por ser 69?

Uma terceira pessoa num 69 sempre fica sobrando ou assumindo o papel de espectador.


Quem diria Michael Collins, anos antes da Voyager, um voyeur.


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O cu não só engaja debates como no fundo (ops) ele une todo mundo, então o que Neil Armstrong, Frank Sinatra, Wando e Luis Fonsi têm em comum?


Todos eles sabem como a pressa é inimiga da perfeição então se um dia alguém te oferecer o cu, já sabe: Despacito nele.


Vá devagarinho, faça este buraco negro voar até a lua, brincar entre as estrelas, faça-o ver raio, estrela e luar.



Se ela for dominante ou moderninha ela vai tentar cutucar o seu pálido ponto azul pois assim como nos cães entre os humanos o cu define qualquer relacionamento entre antes e depois, pode ser um pequeno buraco para o homem, mas um grande salto para a mulher.


E por fim uma pergunta sincera: E se a cápsula lunar do Michael Collins voltando para a Terra ao invés de propulsão fosse puxada de volta por um fio, seria este o verdadeiro Fio Terra?


E isto também me faz lembrar de te perguntar, e se eu contar a história de três russos que tomaram no cu* cada um por um motivo, e isto pode nos ensinar muito sobre o exercício do poder?


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Supositórios do tempo.


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Um garoto de 15 anos decidiu introduzir um cabo USB em seu pênis para, segundo ele, medir seu interior, ficou "curioso" com as medidas de seu órgão sexual e foi parar no hospital. Não sei qual hospital, mas é comum também aparecerem pirocas vítimas da criatividade masculina.


Teve de fazer um corte entre o saco e o ânus (nome oficial para cu) para poder puxar o cabo por lá num destes momentos mágicos da história da medicina onde os médicos foram ao mesmo tempo cirurgiões, profissionais de TI e técnicos de computadores e mais um momento triste sobre essa geração nascida com smartphone na mão mas ou não conhece régua ou está ruim de desculpa ou péssima em fetiche.


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Um avião militar dos Estados Unidos fez um trajeto em formato de pênis próximo a uma base russa entre a Europa e a África.


Segundo o comando da Força Aérea o desenho foi por acaso pois o avião "alternou entre diferentes rotas de voo durante a missão" e o comunicado pontua que os pilotos "não tiveram intenção" em fazer o formato genital, se tratando apenas de uma coincidência.


"Continuaremos mantendo os mais altos padrões de profissionalismo", encerra a nota.


Sei.


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No dia 15 de Novembro a Terra chegou ao número de 8 bilhões de pessoas, a música Despacito também chegou aos 8 bilhões de visualizações no YouTube.


Oito bilhões de cus fazendo dezesseis bilhões de ouvidos de privada, tudo está conectado.


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No mesmo dia comemoramos a Proclamação da República, o nosso primeiro golpe militar, quando os republicanos convenceram o Manuel Deodoro da Fonseca que ele deveria assinar a a tal proclamação dizendo que se ele não assinasse o político Gaspar da Silveira Martins se tornaria ministro, um ex-inimigo do tempo em que ambos disputaram o amor (leia-se cu) da Maria Adelaide.


Nos anais (ooops) da história a nossa república é uma dor de corno.


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Esses tempos convidei o Ricardo* para ir num hambúrguer com o pessoal e ele disse que não poderia ir porque faria uma endoscopia baixa e adivinha, era verdade.


No mesmo dia após o exame tentou fazer uma chamada de vídeo "sem querer" e eu obviamente recusei, e esta atitude me fez repensar muito a nossa amizade.


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*O nome foi trocado por motivos óbvios.


Aliás * é símbolo clássico da era de ouro da internet e significa... quem viveu sabe.


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Hans Niemann foi acusado de trapacear em jogos de xadrez usando objetos sexuais no reto (uma parte do corpo logo após o cu) para receber informações através de código morse, quando reforçaram a segurança e a revista dos jogadores nos campeonatos seguintes (não me peça detalhes pois não pesquisei), ele ficou em penúltimo lugar.


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Ucranianos estão marcando uma orgia caso Putin decida jogar uma bomba nuclear no país e cerca de quinze mil pessoas já confirmaram presença, não sei se vai sobrar cu, mas faltar provavelmente não faltará.


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As pessoas ideologicamente de esquerda estão apavoradas porque o Elon Musk comprou aquele hospício chamado Twitter e por conta disto a plataforma se tornaria supostamente "de direita", e então migraram para uma rede social chamada Koo.


Um cara muito esperto foi lá e fez uma conta em nome do presidente Jair Bolsonaro e então colocou o Koo dele à venda por 10 Bitcoins. Que fim estranho de carreira política, comandar um país por quatro anos e no fim do mandato venderem o seu Koo.


Não pagaria nem um peso.



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Tá vendo? Tudo começa e tudo definitivamente sempre acaba em cu.


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No dia 3 de novembro de 1957 fez 65 anos que a Laika foi ludibriada e lançada viva para o espaço e nunca mais voltou. Tadica da cachorrinha.



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Em novembro ficamos mais um tico surdos e com o coração mais um tico alegre, vimos a Bjork transcender o sambódromo no festival Primavera Sound e então Interpol e Arctic Monkeys, ambos com a classe de sempre, rock para todas as horas que mereceu repeteco pois fomos ver ambos em Curitiba de novo.


Conseguimos ver Behemot e Arch Enemy em Belo Horizonte e em São Paulo, entre ambas as noites vimos o The Killers destruir como sempre no Allianz em São Paulo e no feriado vimos ele, ele mesmo, nada menos que ele, Liam Gallagher, enturmadaço com a plateia, cantando como nunca e já deixando saudades.


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