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ENSAIO 38: ARCO-ÍRIS

Atualizado: 2 de jan. de 2024



Se você está aqui pela primeira vez este ensaio faz parte de um livro sendo escrito em tempo real seguindo a narrativa do fluxo de consciência, se te interessar acompanhar o processo comece pelo primeiro.



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24/08/2023


ARCO-ÍRIS


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É a parte mais difícil, e por isso mesmo compensa.


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O arco-íris é um fenômeno ótico que ocorre em certas condições meteorológicas e causado pela refração, reflexão interna e dispersão da luz nas gotículas de água, resultando em um espectro contínuo de luz aparecendo no céu, assumindo a forma de um arco multicolorido, sempre aparecendo na seção do céu diretamente oposta ao sol.



Um dia de verão perfeito é um dia de sol que termina com chuva e, antes de anoitecer, um arco-íris para embelezar, um maravilhoso paradoxo onde para ver cores é preciso dar as costas para a luz, fenômeno que também pode ser visto em superfícies mais próximas, chamado "iridescência", em uma superfície que parece refletir e mudar de cor conforme o ângulo de quem observa e o grau de incidência luminosa sobre ela.


As cores iridescentes são geralmente azuis e verdes (popularmente chamadas de "furta-cor") e o efeito pode ser observado na natureza em superfícies de cristais como bismuto e labradorita, nas penas de aves como o pombo e o beija-flor, em asas de insetos como os besouros, nas escamas de alguns peixes e répteis e também nas bolhas de sabão, manchas de petróleo, nas notas de cinco, dez e vinte euros (que dispõem de uma banda iridescente no verso como elemento de segurança), discos de vinil novos e em discos ópticos como CDs e DVDs.



A palavra é derivada da deusa grega Íris, a personificação do arco-íris e mensageira dos deuses e seu trabalho de entregar a verdade para nós meros mortais, usando o arco-íris como uma espécie de autoestrada direto do céu.


As más línguas chamariam ela de escandalosa e fofoqueira, mas de todas as deusas Íris parece ser a mais trabalhadora: tinha o emprego de meio período como a deusa da fertilidade e encarregada também de servir o famoso néctar dos deuses para... os deuses.



Mensageira, informante, leva e traz malote, despachante e apaziguadora e até garçonete da área VIP mitológica, e tudo isso viajando em um arco-íris, arco-Íris este que na bíblia judaico-cristã representa a conexão de Deus com os homens, quando estes nas provações de suas jornadas precisam ser lembrados e gratos de tempos em tempos pelo mundo que receberam das mãos do criador, como citado em Gênesis 9:11-13:


- Sim, estabeleço o Meu pacto convosco; não será mais destruída toda a carne pelas águas do dilúvio; e não haverá mais dilúvio, para destruir a terra. E disse Deus: Este é o sinal do pacto que firmo entre Mim e vós e todo ser vivente que está convosco, por gerações perpétuas: O Meu arco tenho posto nas nuvens, e ele será por sinal de haver um pacto entre Mim e a terra.



Jornadas de conquistas e provações que todos nós passamos ao longo da vida, as quais chamamos simploriamente de altos e baixos, e encontráveis em todas as mitologias e religiões e também na cultura humana em livros, filmes e peças de teatro, no arco narrativo conhecido como "Jornada do Herói".


A Jornada do Herói como conhecemos foi formulada e apresentada em 1949 pelo escritor Joseph Campbell em seu livro “O Herói de Mil Faces”, narrando os passos da aventura usual do herói, que começa com alguém de quem algo foi tirado ou sente faltar em sua vida ou missão.


A análise original continha 17 etapas no total adaptada anos depois por Christopher Vogler em sua obra "A Jornada do Escritor" e condensada em 12 etapas para conduzir ao sucesso a construção de uma história, como segue:


1. O mundo comum.

2. O chamado à aventura.

3. Recusa do chamado.

4. Encontro com o mentor.

5. A travessia do primeiro limiar.

6. Provas, aliados e inimigos.

7. Aproximação da caverna secreta.

8. A provação ou abismo.

9. A recompensa.

10. O caminho de volta.

11. A ressurreição.

12. O retorno com o elixir.



Eu tenho a minha própria interpretação da Jornada do Herói em que a parte mais difícil não é o chamado abismo, mas o arco-íris, e a recompensa é a volta e cada dia do verão pode ser relacionado com uma jornada pessoal e cada conquista na vida pode ser descrita como as vinte e quatro horas de um dia de verão.


Segue.


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Uma jornada colorida.



De manhã tudo parece estar bonito, quente e claro como um dia típico na terra sob o sol.


É a Necessidade, é o Dia de Verão.

Um dia quente e as coisas ficam cada vez mais quentes.



Mas em algum momento você começa a se mexer e lá vai, um chamado para uma aventura, e você sente que só precisa fazer alguma coisa.


Não a mesma necessidade que te fez levantar cedo da cama, mas de alguma forma o ar ficou diferente, é uma mudança, um recomeço, e assim o dia passa e muda com você.


Vai, é o Vento.



Agora as coisas parecem um pouco confusas, o céu se transformou em um lugar dividido por cores, mas você ainda tem o sol e a luz do dia, você continua e então, tão rápido quanto você pode perceber, de repente um céu cinza escuro e assustador se tornou o único caminho.


Aí vem a dúvida, o medo, o incerto.

Hora da Busca, é a Chuva.


Como um dia de verão perfeito pode ter se transformado em algo que parece tão errado?


Você ainda precisa ir, mas ao mesmo tempo quer fugir do que esperava ter sido a sua missão.


Não importa como você se sinta ou para qual direção você olhe, está chovendo, atrás de você estava chovendo, na sua frente estará chovendo, se você parar ainda estará chovendo.


Mas você está ouvindo o chamado de novo e não pode voltar e não quer parar, você mantém a cabeça baixa e os olhos um pouco fechados, respira fundo e segue em frente.


E então algo muito estranho acontece.



Ainda está chovendo mas agora você pode ver o sol novamente, você ainda sente o vento mas agora está um pouco quente novamente, ainda está escuro mas ao mesmo tempo claro novamente, cinza e azul, duro e macio, áspero e liso, dúvidas e respostas, molhado e seco.


Então você coloca os ombros para trás e move a cabeça para cima e agora vê cores, uma revelação de cores.


É o Achado.

É o Arco-Íris.



A parte mais difícil de sua jornada é a iluminação, e é difícil apenas porque não é fácil acreditar ser possível, e acreditar que se trata de aproveitar o processo.


Encontrar algo não é realmente o fim, na verdade é um novo começo, o hissopo que te eleva a um novo nível, uma revelação e também um lembrete, e um poema de Dolly Parton:


"Todo mundo quer felicidade, ninguém quer dor, mas não pode haver arco-íris sem um pouco de chuva."



Depois de toda essa estranha e doce bagunça, é hora de ver claramente tudo o que você esteve procurando e, às vezes, mais do que você esperava ou imaginava.


Neste ponto você encontrou a sua própria luz e cores e certamente o mundo não é mais o mesmo, nem mesmo você.


É a Recompensa, bem-vindo ao Resultado.


E então você se encontra em um momento entre o tempo e o espaço onde sua mente parece estar vazia e seu corpo se sente um cristão em areias cristãs, seguro e recuperado, e o azul da luz do dia ficou um pouco mais azul.


Hora do Retorno, é hora de Relaxar.



Mas, quero dizer, MAS, ainda é uma jornada e agora você coloca os pés em movimento novamente de uma maneira diferente, você está pronto para outra rodada com as costas e a mente mais fortes.


E então vem a escuridão novamente, mas agora você tem a lua e as estrelas para iluminar seu caminho e, como eu disse linhas atrás, a sua própria luz e cores.


É a mudança, é a Noite de Verão.

É um novo você, é uma jornada.


Uma jornada colorida.



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Você tem o calor, o vento e a chuva, e agora está pronto para fazer isso de novo, talvez pela manhã você tenha sentido que era muito cedo, mas agora você pode fazer um pouco mais que o homem pisando na lua.


Seja o verão no inverno de alguém, seja a água que sai do irrigador, seja o caracol na página do livro épico de alguém, seja o herói com a espada que você pegou.



Se fora de sua Caverna de Platão todos parecem burros e cegos, apenas viva sua vida e deixe todos para trás.


A vida vale os centavos e as rimas forçadas que você coloca, e a pressão faz diamantes se você os mantiver dentro de si.



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E por falar em mitologia grega e fenômenos no céu, em 2021 a minha primeira viagem pós-pandemia foi voltar para Ilhabela e Zeus, o teimoso, está sempre por lá.


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Cápsulas do tempo.


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Morreu o Sixto Rodriguez, desta vez de verdade, no mundo todo.

Vá em paz figurão, obrigado pela música e por ter passado pelo nosso planeta.


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Recebi um e-mail da Unimed me desejando feliz aniversário seguido de dicas de como eu posso cuidar na prevenção do câncer de mama.


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Aproveitando o ultra-mega-super-híper-hype do momento os artistas argentinos Emiliano Pool Paolini e Marianela Perelli relançaram de bonecas Barbie com temas religiosos, batizadas como “Barbie Virgem Maria” e “Jesus Ken”, irritando com certa obviedade grupos católicos principalmente em Buenos Aires, a cidade natal do papa Francisco.


A exposição original incluía bonecas Barbie retratando outras figuras religiosas como Joana D’Arc e a Virgem de Guadalupe, e também Ken representando Buda e Moisés mas, espertos que são (e por medo de tomar umas boas chineladas), não fizeram nenhuma Barbie muçulmana, nem Maomé, nem Saladino, nem Osama, nem mesmo um Ken-Bomba sequer, mas arriscaram uma ultra-mega-super-híper-provocativa-apocalíptica Kali Barbie indiana, com todos os braços estilo multi-task girl blogueira influencer.


Não sei do que estão reclamando, foram justamente os católicos que barbienizaram e blogueirizaram Jesus e Maria com seus looks coloridos e sedosos, peles claras e seus olhos verdes há séculos, e o blogueirismo é o novo monoteísmo então por mim teria Barbie de todos os santos e santas e até mesmo a Inquisição da Barbie, com várias Barbie-Bruxa e Barbie-Pecadora e as netas que nós não conseguimos queimar em volta brincando.


Pessoalmente gostaria de uma mistura de bonecos Barbenheimer em plena Guerra Fria, em cima de um tabuleiro do Jogo War, afinal naquela época ninguém sabia Ken era Ken.


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